Escolha do Editor

Os Principais Destaques da Rede de Comunicação do Jornalismo Colaborativo

Samurai da Literatura

Samurai Brasileiro

Conheça alguns detalhes da Origem do nosso Samurai da Literatura

Considerado o único nikkei (sansei) que figura no Guinness, na área cultural, Ryoki Inoue é um bom exemplo de que a miscigenação funciona. Autor do livro “SAGA, a história de quatro gerações de uma família japonesa no Brasil“, encomendado pela Editora Globo, em junho de 2008, Ryoki foi destaque no Centenário da Imigração Japonesa que juntou 100 anos de histórias dos imigrantes com o apoio da Editora Abril para o um projeto incorporado ao Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social.

Roupas do Século Passado

Meu avô paterno, Harema Inoue, era militar, frequentava a Academia da Marinha e chegou a ser contemporâneo do famoso Almirante Isoruko Yamamoto, que criou os planos de ataque a Pearl Harbour. Os pais dele eram proprietários rurais da província de Kochi. A família de minha avó, Kanetiyo Kira (nome de solteira) era de samurais. A transição para a era Meiji fez com que a agricultura sofresse muito e, com isso, meu avô precisou abandonar a Academia para ajudar na terra.

Eles continuaram enfrentando problemas de falta de mão-de-obra e não havia nem mesmo quem comprasse o arroz que produziam. Foi nessa época que minha avó começou a produzir papel de arroz (minha esposa, que é escritora e artista plástica, ainda tem um pouco desse papel e o utiliza em suas obras). Mas isso também não era o suficiente para sustentar todas as despesas da propriedade, que acabou sendo vendida por um preço muito baixo.

Em meio a esta situação, surgiu a oportunidade da emigração para o Brasil. Meus avós não vieram na primeira leva, mas na segunda, em 1912. Não tenho muitas informações sobre como foi a viagem, mas sei que foi bem difícil.

O tratamento a bordo não era bom e a comida era completamente diferente daquela a que eles estavam acostumados. Muitos ficaram doentes. Quando chegaram a Santos, foram obrigados a vestir roupas ocidentais, só que do fim do século anterior (século XIX) e as mulheres tiveram de usar sapatos de salto alto, coisa que nunca tinham visto antes. Esse desagradável acontecimento foi por conta de alguma maracutaia do pessoal da imigração que recebeu dinheiro para a compra de roupas. Mas compraram só coisas velhas e usadas. Coisa típica do Brasil, mesmo naquela época…

A história da chegada e da adaptação deles aos costumes brasileiros, eu conto com bastantes detalhes no livro (romance histórico) que escrevi para a Editora Globo, “Saga – A história de quatro gerações de uma família japonesa no Brasil”, lançado em outubro de 2006, justamente visando ao Centenário da Imigração Japonesa, pois descreve os acontecimentos desde 1908 até os dias atuais.

História da Família

Meus avós conseguiram trazer um pouco de dinheiro, o que facilitou bastante o início de vida para eles. Inicialmente foram para o noroeste do Paraná (onde meu pai, Ryoma Inoue, nasceu) e depois, compraram uma fazenda em Cerqueira César (SP). Essa fazenda, apesar de grande, não tinha boa aguada e eles se mudaram para Cotia, com o objetivo de plantar batatas.

Meu pai se formou médico, meu tio, advogado (Gervásio Tadashi Inoue, que foi o presidente que mais tempo ficou à testa da Cooperativa Agrícola de Cotia), e as duas irmãs casaram-se com agricultores, a mais velha, Haruko, foi para Bragança Paulista e a mais nova, Nobuko, foi para Caucaia.

Meus pais, Carlos Ryoma Inoue e La Salette Alpoim Inoue, se conheceram em Campos do Jordão (SP). Ambos foram tuberculosos. Meu pai era médico de todos os sanatórios de lá e minha mãe lecionava francês e português em um colégio estadual (hoje, a escola onde ela dava aulas chama-se FUNCAMP). A família de minha mãe, cujo sobrenome é Arruda Camargo, era formada por cafeicultores e pecuaristas bem tradicionais. O relacionamento entre meus pais e ambas as famílias foi bastante complicado na época.

Depois de casados, eles andaram por várias cidades, mas principalmente Ribeirão Claro (PR), Cerqueira César (SP) e Cotia (SP). Meu pai também clinicou em Taubaté (SP) e em Brasília (DF). Aposentado, mudou-se para Piúma (ES). Ao lado da medicina, ele sempre lidou com a agricultura, seguindo os passos de meu avô, com a diferença que a sua paixão era a pecuária de corte. Meu tio sempre ficou em São Paulo, pois desde sempre esteve ligado à diretoria da Cooperativa de Cotia.

Eu nasci em 1946, ou seja, no pós-guerra imediato e minha irmã, em 1948. Hoje ela mora nos Estados Unidos. Posso dizer que as lembranças da minha infância são muito boas e que guardo muitas saudades daquela época. Eu sempre estudei em São Paulo, mas em todos os finais de semana e nas férias, eu ia para a fazenda, em Taubaté ou em São Luiz do Paraitinga. Daí a minha paixão pelo campo e, por isso, minha opção em buscar sempre morar no interior, como foi em Gonçalves (MG), onde ainda podíamos tomar leite diretamente da vaca e conhecer pessoalmente o porco que foi assado e as verduras todas orgânicas. Hoje, encontro essa possibilidade também no litoral capixaba, em Aracruz, onde vivo com minha carinhosa esposa.

Brasil, Japão, França e Portugal

Minha mãe era portuguesa (advogada e professora de filosofia, grego e latim). Por isso, os costumes nipônicos não eram tão inculcados na minha mente e na de minha irmã. Comecei realmente a me interessar pela cultura japonesa e pelos costumes de meus antepassados quando estava já no ginásio.

Mas, na fazenda de meus avós, sempre havia festas japonesas com muita gente, muita comida. Hoje em dia, a Nicole, minha esposa e que é francesa, é adepta irrecuperável de comida japonesa e até aprendeu a fazer sushi, sashimi e outros pratos típicos. Uma parte importante da minha formação nipônica, eu adquiri no judô e no caratê, que pratiquei desde os sete anos de idade até cinco anos depois de sair da Faculdade de Medicina.

Por incrível que possa parecer, nunca tive oportunidade de conhecer o Japão. Claro que gostaria muito de ir… Escrevi para os dekasseguis brasileiros a pedido de uma empreiteira de mão-de-obra, e criei uma espécie de James Bond mestiço, o Mário Kiyoshi Nogaki, e quatro títulos sobre ele foram levados para o arquipélago. Venderam cem mil exemplares. Pena que essa empreiteira fechou e, por isso, a série foi descontinuada. Há um projeto que pretendo desenvolver chamado E-Pockets que irá resgatar diversas histórias de espionagem, guerra, western e romances policiais com esse personagem, mas que ainda está órfão de investidores realmente interessados.

Passado, Presente e Futuro

Além de Nicole, minha família é constituída pelo meu filho Georges, Jornalista e responsável pela criação do Selo Editorial Ryoki Produções e a minha netinha, Caroline que trouxe mais luz para nossas vidas. Todos admiramos e seguimos muita coisa da cultura japonesa. Tanto que estou escrevendo uma série de livros de bolso sobre samurais e isso me obriga a estudar um pouco mais, a cada livro, sobre os hábitos ancestrais.

Acho que eu não seria quem eu sou e muito menos teria chegado ao que sou se não fosse a cultura japonesa. Ensinamentos básicos orientaram efetivamente o meu comportamento diante de situações, aprendi a ter paciência, perseverança e força de caráter. Tenho passado isso para meu filho, com sucesso e espero que sobre alguma coisa para a neta, considerando que não tenha tido o mesmo efeito para meus outros dois filhos de relacionamentos anteriores, André e Anouk que acabaram ficando mais distantes de nós com o passar do tempo.

Para o futuro, o objetivo é lançar minha biografia e se minha saúde ainda permitir poder dar continuidade nas séries de novelas menores com o intuito de revitalizar o livro de bolso no Brasil e incrementar a leitura de livros digitais.

 

Fonte: Jornalismo Colaborativo / RYOKI PRODUÇÕES


Sobre o Autor
A Rede de Comunicação do Jornalismo Colaborativo é o Curador Editorial do Escolha do Editor e único veículo nacional que esteve presente em todas as edições do Collaborative Journalism Summit, destaque no Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII / Prêmio Expocom 2016.
Ver todas as publicações